Arte rupestre
Animais pintados na Gruta de Lascaux, um dos sítios de arte
rupestre mais famosos do mundo.
Arte
rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas
realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos
rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre. A arte rupestre
divide-se em dois tipos: a pintura rupestre, composições realizadas com pigmentos, e a gravura rupestre, imagens
gravadas em incisões na própria rocha.
Exibem uma iconografia
variada, em vários "estilos", técnicas e materiais. Em geral, trazem
representações de animais, plantas e pessoas, e sinais gráficos abstratos, às
vezes usados em combinação. Sua interpretação é difícil e está cercada de
controvérsia, mas pensa-se correntemente que possam ilustrar cenas de caça,
ritual, cotidiano, ter caráter mágico, e expressar, como uma espécie de
linguagem visual, conceitos, símbolos, valores e crenças. Muitas composições
são louvadas pela sua beleza e refinamento e seu apelo visual. Por tudo isso,
muitos estudiosos atribuem à arte pré-histórica funções e características
comparáveis às da arte como hoje é largamente entendida, embora haja
uma tendência recente de substituir a denominação "arte" rupestre por
"registro" rupestre, considerando a incerteza que cerca seu
significado. Permanece, de todo modo, como testemunho precioso de culturas que
exercem grande fascínio contemporaneamente mas são ainda pouco conhecidas.
Descoberta e autenticidade
Bisão na Caverna de Altamira.
Quando Marcelino Sanz de Sautuola encontrou pela primeira vez as pinturas da Caverna de Altamira, na Espanha, em torno de 150 anos atrás, elas foram consideradas como fraude pelos acadêmicos. Com base no novo pensamente darwiniano sobre a evolução das espécies, considerou-se que os primitivos humanos não poderiam ter sido suficientemente avançados para criar arte. Émile Cartailhac, um dos mais respeitados historiadores da Pré-História do final do século XIX, acreditava que as pinturas tinham sido forjadas pelos criacionistas (que sustentavam a criação do homem por Deus) para apoiar suas ideias e ridicularizar Darwin, mas depois ele veio a se retratar, reconhecendo sua autenticidade.
Recentes
avaliações têm atestado uma grande antiguidade nas figuras pré-históricas
encontradas. Estima-se que a arte rupestre tenha começado quando o homem de Cro-Magnon se
estabeleceu na Europa deslocando o homem de Neanderthal, aparecendo no período Aurignaciano e florescendo especialmente nos períodos Solutreano e Magdaleniano do Paleolítico, sendo
provavelmente posterior ao aparecimento de objetos "artísticos"
móveis, como artefatos em osso ou pedra esculpida. Porém, o conceito de Pré-História
é diferente quando aplicado à Europa e às outras partes do mundo, pois está
baseado fortemente sobre as características da cultura material e não na cronologia. Na Europa a História
inicia em torno de 8 mil anos antes do presente, quando surgem os primeiros registros de uma
forma embrionária de escrita, e nas Américas, segundo Funari & Noelli, é pré-histórico tudo o
que veio antes da chegada dos europeus no final do século XV, embora os maias possuíssem escrita, os astecas uma proto-escrita e os incas, um sistema de registro de eventos e contabilidade através de cordas
com nós, os quipos. Mas são casos isolados. Para todas as outras culturas o que sobrevive
para estudo são registros visuais em rochas e artefatos em pedra, cerâmica e
outros materiais. A questão da idade exata das imagens permanece, de fato,
controvertida, dado que métodos como a datação por radiocarbono podem facilmente levar a resultados errôneos pela contaminação de amostras de material mais antigo ou mais novo. As cavernas e superfícies rochosas estão
tipicamente atulhadas com resíduos de diversas épocas.
Animais representados na Caverna de Chauvet, em geral consideradas as mais antigas pinturas
rupestres.
Depois de ser considerada primeiro como fraude, e em seguida como evidência de mentes primitivas, ao longo do século XX, a partir da complexidade e da beleza de muitos exemplares de arte rupestre, formou-se uma ideia, de larga aceitação, de que essas manifestações deveriam significar que os homens pré-históricos há pelo menos 30 ou 40 mil anos possuíam uma capacidade simbólica, intelectual e artística semelhante ao homem moderno. Os exemplares mais antigos de pintura cuja datação é razoavelmente confiável estão na Caverna de Chauvet, na França, criadas em torno de 32 mil anos antes do presente. Tornaram-se famosas pela sua grande sofisticação, e isso colocou mais dificuldades no estabelecimento de uma linha evolutiva coerente e progressiva para a arte pré-histórica. Apesar das muitas pesquisas realizadas tentando corroborar esta evolução linear, elas são frágeis, baseadas em poucas evidências, pois apenas 5% das imagens foram datadas com alguma confiabilidade.
De fato, a
dificuldade na datação das relíquias é tamanha que durante muitos anos a
tendência foi de estudar a arte rupestre como um bloco, na perspectiva da
atemporalidade, mas considerando que a produção se desenvolveu ao longo de
muitos milênios e sobre variadas regiões, cultivada por sociedades com
características diferenciadas, esta abordagem tem problemas óbvios. Este
panorama só a partir dos anos 80 começou a se modificar, quando os estudos
especializados se multiplicaram rapidamente procurando definir melhor as
especificidades tipológicas, técnicas, cronológicas e geográficas. Avanços
recentes na tecnologia e na metodologia científica têm contribuído para
esclarecer melhor vários pontos obscuros, mas às vezes introduzem novas dúvidas
em conceitos consagrados. O estudo da arte rupestre é um campo em rápida
expansão e constante transformação.
Objetivo e temas
Gravura rupestre com cena de luta entre guerreiros
da Idade do Ferro, em Val Camonica, Itália.
Em geral as imagens são formadas por figuras de grandes animais selvagens, como bisões, valos, cervos, entre outros. A figura humana surge menos vezes, mas também é muito comum, sugerindo atividades como a dança, a luta e principalmente, a caça, mas normalmente em desenhos esquemáticos e não de forma naturalista, como acontece com os dos animais. Paralelamente encontram-se também palmas de mãos humanas e motivos abstratos. Os pigmanetos mais usados são o carvão, argilas de várias cores e minerais triturados. Os veículos para os pigmentos são de determinação mais difícil, mas presume-se que possam ter sido usados sangue, excrementos e gordura animal, ceras e resinas vegetais, clara ou gema de ovos e saliva humana.
Acredita-se
que estas pinturas tenham um cunho ritualístico ou mágico, com uma simbologia relacionada principalmente à caça e à fertilidade.
Na Caverna de Altamira (a chamada Capela Sistina da Pré-História), na Espanha, a pintura
rupestre do bisonte impressiona pelo tamanho e pelo volume conseguido com a
técnica claro-escuro. Em outros locais e em outras grutas, pinturas que
impressionam pelo realismo. Em algumas, pontos vitais do animal marcados por
flechas. Para alguns, "a magia propiciatória" destinada a garantir o
êxito do caçador. Para outros estudiosos, era a pura vontade de produzir arte.
A importância do estudo da arte rupestre deve-se não tanto à interpretação das
figuras em si, mas antes à possibilidade de obter um entendimento dos motivos e
contextos que levaram uma comunidade a usar muito do seu tempo e esforço na
execução da dita arte. Como estas sociedades primitivas se estendem no tempo e
na sua essência são consideravelmente diferentes das nossas vivências atuais, o
estudo da arte rupestre de forma científica permite analisar o comportamento do
homem em contextos muito díspares, pelo que acaba por ser um estudo
transdisciplinar entre a psicanálise, a antropologia e o nosso próprio conceito
de arte.
Mas é
difícil garantir qualquer coisa sobre seus significados e funções, subsistindo
grande polêmica. Vários estudos chegaram a comparar a arte rupestre com a
produção de crianças autistas, e Robert Bednarik observou que há muito escassa evidência de que a
arte paleolítica tenha sido feita predominantemente por adultos, havendo
evidências, porém, de que parte expressiva do acervo foi criada por jovens e
crianças. Segundo Rodrigo Simas Aguiar, "Uma tradução dos grafismos rupestres é
impossível, pois para tanto seria necessário conhecer com precisão os códigos
que regem a composição destes símbolos. [...] Como não podemos decifrar com
precisão os desenhos, é fundamental estar atento às técnicas de produção.
Ciente disso, o arqueólogo registra informações diversas sobre a arte rupestre,
como estilo, maneira de pintar ou gravar, largura dos sulcos ou linhas, tipos
de associações de desenhos, fontes de água mais próximas, e assim por diante.
Essas informações, quando combinadas a outras, vindas de escavações
arqueológicas tradicionais, auxiliarão na composição do contexto em que a arte
rupestre está inserida.". Embora
as conclusões dos estudiosos sejam muito controversas, é um consenso que os
registros podem proporcionar valiosas pistas a respeito da cultura de das crenças daquela época. As imagens também têm sido usadas para desvendar a
aparência da fauna e da flora daqueles tempos, mas o grau de realismo das
representações é variável, e mesmo os exemplares mais sofisticados podem não
ser realistas. Segundo estudo de Pruvost et
al., as figuras de cavalos tendem a ser as mais confiáveis.
Sítios mais conhecidos
Os sítios
mais conhecidos e estudados encontram-se na Europa, sobretudo França e no norte da Espanha, a denominada arte franco-cantábrica; em Portugal, na Itália e na Sicília; Alemanha; Bálcãs e Romênia. No norte mediterrâneo da África; na Austrália e na Sibéria são conhecidas milhares de localidades, porém não tão estudadas, como é
o caso do Brasil.
Brasil
No Brasil são encontradas manifestações de arte rupestre em todo o território
nacional. Com base em suas características e localização, o acervo foi dividido
em "tradições": Agreste, Planalto, Nordeste, São Francisco,
Litorânea, Geométrica, Meridional e Amazônica, mas verificam-se muitas
interpenetrações entre esses grupos. O principal sítio é o Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí, Patrimônio Mundial da Unesco, com o maior acervo do continente
americano, e um dos mais estudados. No estado de Pernambuco encontram-se
pinturas no Parque Nacional do Catimbau. o segundo maior parque arqueológico do Brasil. Outros sítios
importantes são os Lajedos de Corumbá, no Mato
Grosso do Sul; a Pedra do Ingá, na Paraíba;a Lapa do Boquete, a Lapa do Caboclo, e as
regiões de Varzelandia e Lagoa Santa, em Minas Gerais. Em Santa Catarina se destacam
registros em várias ilhas litorâneas, como Campeche e Corais. No Rio Grande do
Norte são encontrados principalmente nas regiões do Seridó e na chapada do Apodi, com destaque para o Lajedo de Soledade. Muitos
registros estão em condições precárias, outros têm sofrido vandalismo, ou são destruídos em obras de infaestrutura como barragens e estradas.
Aluno: Vinicius Menezes
Pereira
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